segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

GIL E SUA TARTARUGUINHA




Esta HQ tem roteiro parcialmente adaptado de um trecho da obra Os Meninos da Rua da Praia, de Sérgio Caparelli. É, portanto, uma HQ com raízes na literatura infantil, mas que discursa sobre temas atuais e cotidianos, como a violência no trânsito, o tráfico humano e a coisificação de seres vivos em bens de consumo. Através da inocência de um conto infantil, a HQ tece críticas – partindo da fala da tartaruguinha – a estes determinados comportamentos sociais, algumas vezes encarados como imorais ou ilegais, e outras vezes vistos como normalidade.

O material usado (lápis de cor e giz de cera sobre papel envelhecido) faz referência às modalidades artísticas infantis, e, reforçado pela estética estilizada/cartunizada dos personagens e cenários, evoca a produção manual, em detrimento da produção digital tão influente em nossos dias.

A disposição dos quadros em seqüência linear pela parede, ao invés de em páginas, serve como recurso diferenciador da HQ proposta como objeto estético/artístico pela galeria de arte da HQ proposta como mercadoria da indústria cultural. Além disso, a linha (irregular) formada pela HQ na parede serve como atrativo visual.

Os recortes de jornal usados em alguns quadros trazem o leitor em incursões no “cruel mundo real”, fora da ilusão criada pela ingenuidade das histórias infantis. A estética é outra, cheia de letras, fotos realistas, linguagem coloquial, que funcionam como uma fenda, ferida aberta dentro das concepções idealistas de um mundo bom, inatingível, imutável. Os recortes, afinal, trazem o leitor para o mundo do qual ele nunca saiu: o aqui, além das fronteiras do próprio ‘eu’. Um mundo onde a ilusão de normalidade, moralidade e juízo é constantemente ameaçada pelas patologias morais da sociedade que criamos.

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